Por Rhuan Targino Zaleski Trindade e Rodrigo Enrich de Castro – Núcleo Educativo & Pesquisa MuseCom
A data de 20 de setembro, conhecida popularmente como “Dia do Gaúcho”, rememora a efeméride do início da chamada Revolução Farroupilha ou Guerra dos Farrapos, cujo princípio ocorreu na madrugada daquele dia de 1835, com a tomada da ponte da Azenha pelo exército rebelde, tendo o conflito se estendido ao longo de 10 anos. Os motivos para a revolta dos farroupilhas, liderada pela elite pecuária do Rio Grande do Sul, estavam relacionados com elementos políticos e econômicos.
Como aponta Kuhn, a “insatisfação com a condição econômica da província” (KUHN, 2004, p. 80), diante da concorrência com o charque platino (a partir da independência uruguaia em 1825) que pagava menos impostos e, de outra parte, “as questões políticas que não tinham se resolvido entre o governo do Império e as elites locais” (KUHN, 2004, p. 80), frente àquilo que era considerado como grande centralização monárquica da Constituição de 1824.
Estes foram os aspectos centrais que acarretaram o levante, cujas consequências, entre outras, conduziram à proclamação da República Rio-Grandense em 1836, uma sequência de batalhas e escaramuças ao longo de uma década até o Tratado de Ponche Verde (1 de março de 1845) e a paz com uma série de concessões aos rebeldes.
As rememorações do levante farrapo, especialmente no século XX, tiveram como resultado uma grande quantidade de comemorações no Rio Grande do Sul, como exemplo, as reverberações em 1935 dos cem anos da Revolução Farroupilha.
Exposição do Centenário Farroupilha
A Exposição do Centenário Farroupilha, inaugurada em setembro de 1935 e encerrada em janeiro de 1936, foi idealizada pela Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (FARSUL), com o apoio da prefeitura de Porto Alegre e do Governo do Rio Grande do Sul e organização do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul (IHGRGS). Foi considerado o maior evento já organizado no estado. Nesse sentido, o jornal “A Federação” de 21 de setembro de 1935, afirmava que “nunca se assistiu, em Porto Alegre, a espetáculo cívico de tão estupenda grandiosidade e de tão ardente desbordamento de entusiasmo popular” (A FEDERAÇÃO, 1935, p.6).
O objetivo da exposição era relembrar os “heróis” da Revolução Farroupilha de 1835, além de valorizar e promover a cultura e a economia rio-grandense, ou seja, a intenção era tanto celebrar um passado heroico quanto um presente de otimismo.
A comissão da exposição foi formada pelo então governador general Flores da Cunha, o prefeito de Porto Alegre, Alberto Bins, e demais figuras proeminentes da época, como o empresário A. J. Renner, responsável pela seção das indústrias; o dr. Dario Brossard, responsável pela seção da pecuária; e o historiador Walter Spalding, responsável pelo setor cultural da exposição. A abertura da exposição, no dia 20 de setembro de 1935, contou com a presença do presidente Getúlio Vargas.
A exposição ocorreu no então “Campo da Redenção”, que a partir dali passou a ser chamado de “Parque Farroupilha” por um decreto do prefeito Alberto Bins. Segundo dados da época, cerca de um milhão de pessoas visitaram a exposição e seus mais de 3.000 expositores, com pavilhões de diversos estados do país e de alguns países, nos quais eram expostos produtos típicos e algumas empresas representativas da economia local, além dos pavilhões e de áreas específicas, como indústria e pecuária. O pavilhão cultural foi o único preservado, sendo atualmente o Instituto de Educação General Flores da Cunha.
No encerramento da exposição, no dia 15 de janeiro de 1936, foi inaugurado o monumento a Bento Gonçalves, de autoria do escultor Antonio Caringi. Foi também durante as comemorações pelo centenário farroupilha que foi definida a versão atual do hino rio-grandense.
O Museu da Comunicação Hipólito José da Costa tem em seu acervo alguns periódicos do período da Revolução Farroupilha (1835-1845), como “O Mestre Barbeiro” e “O Povo”, além de jornais (Correio do Povo, A Federação, Diário de Notícias) e álbuns sobre a exposição Centenário Farroupilha de 1935, além do cartaz produzido para a exposição por Nelson Boeira Faedrich.
Bibliografia
CASTILHOS, Julio de. A Federação. Porto Alegre: 1935.
KUHN, Fábio. Breve história do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Leitura XXI, 2004.