Estela Machado Winter Galmarino e Louise Ayang Folgiarini, Historiadora e Arquivista do Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa
No dia 27 de outubro é comemorado o Dia do Patrimônio Audiovisual, data criada em 2005 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) para celebrar os 25 anos da “Recomendação para a Salvaguarda e a Preservação de Imagens em Movimento” publicada em 1980 (UNESCO, 2025). O documento incentiva os Estados-membros a adotarem medidas a fim de reconhecer e preservar o patrimônio audiovisual de nações e comunidades, ressaltando a importância de implementar ações específicas e garantindo a conservação dos acervos audiovisuais e sua fruição pelas gerações futuras. Neste sentido, se destaca a necessidade da salvaguarda das obras audiovisuais num espectro mundial, considerando-as como patrimônio cultural.
Em sua recomendação, a UNESCO destaca a importância do reconhecimento dos arquivos audiovisuais para a memória coletiva, como fontes de pesquisa histórica, e incentiva sua difusão apontando a contribuição das imagens em movimento para a educação e para a disseminação de aspectos culturais significativos para o mundo. O documento estimula os países a seguirem políticas nacionais de arquivos, principalmente no que diz respeito aos aspectos de preservação e acesso, e também incentiva a colaboração entre instituições de acervos audiovisuais localizadas em diferentes países e o intercâmbio de informações técnicas.
Os acervos audiovisuais estão relacionados ao conceito de imagem em movimento, que inclui: produções cinematográficas, como longas-metragens, curta-metragens; produções televisivas e videográficas. Portanto, é entendido que os acervos audiovisuais abarcam imagens gravadas em um suporte e que, quando projetadas, dão impressão de movimento (UNESCO, 1980).
Com o surgimento do cinema no século XIX, diversas obras cinematográficas e audiovisuais foram produzidas. Inicialmente os filmes em películas eram fabricados em suporte de nitrato de celulose, mas por serem altamente inflamáveis, foram substituídos na década de 1950 pelo acetato de celulose, menos perigoso que o nitrato. Nos anos 1990, por conta da maior estabilidade frente às variações climáticas, o poliéster foi adotado como padrão na indústria cinematográfica (CASTRO, 2023, p. 59). Com o passar do tempo e os avanços tecnológicos, os filmes passaram a ser produzidos através do meio digital.
Infelizmente, muitas dessas obras, principalmente os filmes analógicos dos primórdios do cinema, foram destruídos ou perdidos devido a incêndios ou processos de deterioração causados por falta de conhecimento técnico, descaso, ausência de espaço adequado para armazenamento e outros fatores. Por isso, um dos maiores desafios da preservação audiovisual é manter estes acervos audiovisuais em bom estado através de meios técnicos de conservação. No Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa (MuseCom), este trabalho de preservação é feito pelo Núcleo de Acervos e conta com o trabalho de profissionais da área de história, arquivologia e museologia.
O acervo de Cinema do MuseCom preserva mais de 3500 filmes em diferentes suportes e bitolas. Em muitos casos são imagens únicas de acontecimentos históricos que marcaram a implementação de políticas públicas no Estado. Visitas de presidentes, urbanização de cidades, mudanças no transporte público, festividades e tradições religiosas, como o Carnaval e procissões religiosas, são alguns dos temas que podem ser encontrados nas coleções. Os registros cinematográficos mais antigos do Museu remontam à década de 1940, mas há também telejornais da década de 1970 e filmes de ficção dos anos 2000..
O filme, como nenhum outro suporte, tem o potencial de transportar o espectador para diferentes épocas, modos distintos de se comunicar e de se relacionar entre as pessoas. Sua capacidade única de captar emoções e testemunhar acontecimentos históricos contribui para o registro de fatos que a sociedade não deve esquecer a fim de impedir que se repitam com outras nações e coletividades (POLLAK, 1989).
O tema do Dia Mundial do Patrimônio Audiovisual de 2025, “Sua janela para o mundo”, convida à reflexão sobre a potência do audiovisual como um meio de conexão com culturas passadas, despertando empatia e aproximação entre os povos. Cada registro audiovisual é uma janela aberta para experiências humanas testemunhando aspectos como resistência e esperança por meio dessas obras.
Esse viés de reflexão se faz presente nos objetivos institucionais do MuseCom. A prioridade é preservar não apenas o suporte físico do filme, mas também seu conteúdo informacional. Neste sentido, a instituição desenvolve projetos de digitalização das películas cinematográficas democratizando o acesso a este material pelo público em geral. Conservar e difundir são ações que dão potencialidade e sentido para a preservação audiovisual.
Referências:
CASTRO, Natália de. Revisão de Filmes: Manual básico. Prefácio de Tiago Baptista – Rio de Janeiro: Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, 2023. Disponível em: https://mam.rio/publicacoes/revisao-de-filmes-manual-basico/ Acesso: 23 out. 2025.
POLLAK, Michael. Memória, Esquecimento, Silêncio. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 2, n. 3 (p. 3-15), 1989. Disponível em: https://periodicos.fgv.br/reh/article/view/2278 Acesso: 20 out. 2025.
UNESCO. Recomendação para a protecção e preservação de imagens em movimento. Cadernos BAD (Portugal), n. 1, 2001. Disponível em: https://brapci.inf.br/v/82253. Acesso: 20 out. 2025.
UNESCO. World Day for Audiovisual Heritage 2025. Disponível em: https://www.unesco.org/en/days/audiovisual-heritage. Acesso: 23 out. 2025.